Como se tornar Dj!

O fotógrafo Daniel Lacet se diverte animando a pista de casa noturna em Porto Alegre

Felipe Neves/Divulgação

Elis Martini
Especial para o Terra

Com a invenção do MP3 e com os diversos aparatos tecnológicos que possibilitam o download e o armazenamento de milhares de músicas em aparelhos cada vez mais minúsculos, colocar som em festas tornou-se o passatempo de muitos jovens. Motivados pela diversão, pelo amor à música e por entradas de graça, um número cada vez maior de DJ's amadores invade as pistas do Brasil.

A mania de "brincar" de DJ é tão grande que as chamadas "batalhas de iPod" são comuns nas metrópoles brasileiras. São festas nas quais diversas equipes de DJ's amadores competem para ver quem faz a pista ficar mais animada.

Além das entradas de graça nas festas, o que motiva a maioria dos DJs amadores é a diversão e o amor à música. "Eu amo música e não tenho nenhuma habilidade para tocar instrumentos. Uma vez tentei aprender bateria e foi quase um desastre. Então essa é a forma mais fácil de estar ligada à música", afirma a jornalista Fernanda Vasconcellos, 22 anos, que trabalha como locutora de rádio e eventualmente coloca som em festas.

"Também tem o lance de termos acesso muito fácil à música hoje. Acho que todo mundo está a fim de mostrar para os outros o que conhece e gosta, e uma forma de fazer isso é botando som", completa.

O sentimento é o mesmo da formanda em Direito Gabriela Etchart, 22 anos. "Tenho uma história de amor com a música que vem desde cedo. Aos 13 anos já arranhava alguns acordes na guitarra. Aos poucos, a pretensão de ganhar a vida com a música e não ver retorno foi dando lugar à pressão por uma profissão tradicional" explica Gabriela, que trabalha no Ministério Público Federal e em Juizados Especiais.

"A discotecagem surgiu como uma alternativa, porque consegui aliar essa paixão à batalha por um lugar ao sol no mercado de trabalho de uma forma indolor e menos complicada. Para o amador, bastam alguns minutos selecionando downloads, outros gravando CD's e algumas horinhas colocando os amigos pra dançar" analisa Gabriela.

Mesmo não sendo DJ profissional, toda pessoa que queira animar uma pista de dança deve se manter informada sobre as últimas novidades e lançamentos. Para isso, a Internet é a maior aliada. "Faço constante busca em blogs especializados em indie rock, que são maravilhosos para quem tem tempo e paciência pra ler e baixar arquivos" afirma o fotógrafo Daniel Lacet, 28 anos.

"Também escuto os conselhos dos meus grandes amigos e 'mentores' Gabriel Machuca e Rafael Schutz, DJ's residentes do Porão do Beco, onde discoteco com freqüência" afirma Lacet, referindo-se à badalada casa de rock localizada em Porto Alegre.

Uma das grandes diversões dos DJ's amadores é arriscar músicas inusitadas ou que ninguém conhece, o que às vezes pode acabar não dando certo. "Uma vez toquei 'Clocks', do Coldplay, e escutei um grande 'aahhhh' da pista. Aprendi muito com esse 'ahhhh', relembra Daniel. "Mas depois de algum tempo tocando, você começa a reconhecer a resposta do público ao teu set e a não tocar pérolas", completa o fotógrafo.

Quem também já passou por essa situação foi o publicitário Marcos 'Médici' Bastos, 26 anos. "Costumo discotecar bandas nacionais independentes de qualidade duvidosa, então uma hora ou outra me olham como uma cara de espanto. Normalmente acontece por posicionamento meu de querer apresentar músicas novas na marra. Mas já comecei a ouvir em outras festas faixas que só eu tocava antes", explica. "Sem arriscar 'broxar' a pista, ninguém vai colocar uma música nova", completa o publicitário.

E para consertar eventuais erros de percurso, todo bom DJ amador pode contar com certas músicas que com certeza farão a pista "bombar". Entre elas, as composições do grupo brasileiro de electro rock CSS estão entre as favoritas. "Os chamados 'hits de pista' são inúmeros. Com certeza tocar algo do CSS, Strokes ou Arctic Monkeys garante a diversão do pessoal", afirma Lacet. Bastos concorda: "CSS ainda é o que mais enche a pista".

Já Fernanda acredita que o melhor é apostar nos clássicos do pop. "As músicas que mais 'bombam' são, geralmente, coisas que têm uma abrangência maior. A pista morreu? Michael Jackson, Madonna e, dos grupos mais novos, o Killers, são exemplos de sucesso garantido", aconselha a jornalista.

Para quem não possui horários muito rígidos, discotecar pode se tornar um passatempo perfeito. "Pela flexibilidade dos meus horários, entre um ensaio fotográfico e outro sempre consigo administrar o tempo para tocar nas festas" afirma Lacet. Entretanto, se você possui um quadro de horários rígido, o hobby pode render alguns atrasos. "Quando a festa é no final de semana, não há problema algum. Nas festas durante a semana eu durmo um pouco ao chegar do trabalho e evito ficar de farra depois de tocar. Mas uma vez ou outra a festa estava divertida demais e acabei me atrasando no outro dia", confessa Bastos. "Até hoje nada grave", completa o publicitário.

Para conciliar interesses e multiplicar a diversão, Fernanda montou com as jornalistas Ana Luiza Bazerque e Camila Mazzini um trio de DJ's chamado Bande à Part. "A Ana é a maior garimpadora de novidades que eu conheço. Está sempre achando uma banda nova de um país esquisito que soa muito bem. A Camila é a melhor produtora e agitadora cultural. Ela faz tudo acontecer. E eu ponho a mão na massa, aperto os botões, ajudo a classificar o repertório. Assim dá pra se divertir sem ocupar muito do tempo", explica Fernanda.

Quem é apaixonado por música e gosta de colocar todo mundo para dançar confessa que o esforço e o tempo gasto pesquisando músicas e bandas novas vale a pena. "É um prazer que compensa as horas mal-dormidas", conclui Gabriela.